É possível...

Qualquer semelhança com a realidade...

Lá estava ela, com seu vestido de bolinhas, descendo do transporte público, rumando para casa. Voltava da escola. Imagino que fosse a segunda semana de aula na nova escola.

Em todos os dias que voltava para casa naquelas semanas, estava sozinha. Ninguém que descia no mesmo ponto que o seu ia pelo mesmo caminho. Estava acostumada com isso. 

Naquele dia, porém, foi diferente. Havia um garoto.

Ele ia pelo mesmo caminho e olhava para ela com certa estranheza. Ela sabia disso porque, quando virava para olhar se ele ainda estava atrás dela, o garoto a estava fitando.

Ela logo começou a andar mais rápido, temendo que o rapaz a atacasse. Para seu terror, o garoto também apressou o passo. Ele estava poucos passos atrás dela, e em pouco tempo ela quase corria. Ele queria roubá-la naquela esquina inabitada em frente? Seria estuprada? Sequestrada? Morta?

O garoto também parecia apressado. Ambos trocavam olhares nervosos, um tentando ultrapassar o outro. A jovem mantinha a expressão neutra, mas quase morria por dentro. O que esse rapaz queria, afinal?

Passando pelo parque, não havia ninguém por perto, nenhuma criança brincando ou adolescentes andando de skate. Nenhum cliente no mercadinho, nenhuma senhora espiando a vida dos vizinhos. Eram praticamente os dois sozinhos nas ruas desertas.

Quando a garota chegou na rua de sua casa, pensou em desviar-se do caminho para que ele não soubesse onde era sua casa.

Isso não foi necessário.

Ele, para a surpresa dela, parou em frente a uma casa e pegou um molho de chaves da bolsa em seu ombro, abrindo o portão e entrando. Olhou para a garota ainda com desconfiança enquanto fechava o portão, mas ela já ia em direção à própria casa com uma expressão incrédula no rosto.

Eles eram praticamente vizinhos! Como nunca se encontraram?!

Em casa, contando o ocorrido para a mãe, ainda ganhou a seguinte revelação:

— Ah, aquele menino? Você não deve lembrar, mas ele estudava com você no Ensino Fundamental! Era um doce de criança, ele! Vocês dois mudaram muito de uns anos pra cá, então é possível que ele também não tenha lembrado de você.

— Mãe, será que ele achou que eu estava seguindo ele?!

— ...

— ...

— É possível.

... É mera coincidência.

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