Pepinos

Você era como um pepino para mim: sem graça, mas relevante o suficiente para que me deixasse incomodada se estivesse em meu prato. Eu nem sabia o que me incomodava tanto; demorei assimilar o motivo.

Não sei se sua presença se tornou forte repentinamente ou era somente meu incômodo atiçando meus sentidos (que te viam em todo lugar) mas, depois de um tempo, você se fez obrigatória assim como as azeitonas que minha mãe insistia em colocar no patê de frango, mesmo sabendo que eu odiava. Talvez tenha sido em um momento desses, nos quais sua presença era impossível de não ser notada, que eu deixei de pensar em você como um pepino e comecei a te assimilar com azeitonas.

Eu tive que te engolir. E apesar de achar que nunca admitiria, eu até que gostei. Não era sem graça como um pepino, mas também não era impactante como azeitonas ou amargo como café; era agridoce, simultaneamente agradável e surpreendente.

Foi meio engraçado, como quando você fala que ama algo e sua tia irritante te lembra que você odiava isso até semana passada. É constrangedor e libertador admitir um erro de julgamento, não?

Num desses momentos aleatórios da vida, eu estava lembrando de você involuntariamente e eu percebi o que sempre me incomodou em você; e foi esquisito para caralho perceber que eu sempre soube o jeito que você mexia comigo, mas tinha medo demais, escondendo-me com minha implicância infantil. E eu, que já te via em todo lugar, te vi também nos não-lugares: você ocupava minha realidade e imaginação, e meu pobre coração não sabia mais o que fazer para parar soar como uma partida de pingue-pongue toda vez que você aparecia no meu campo de visão.

Sua presença se tornou o suco de maracujá da minha mãe: variando entre doce e azedo, mas sempre forte e deixando o gosto na boca por um bom tempo depois de tomado, calmante e essencial para que minhas manhãs começassem incríveis.

Então...


"Eu gosto de você. Tchau!"

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