Eu sou boa em não pensar, até que eu penso demais

Na maioria das vezes, quando eu vou escrever algo meio sem sentido, levemente sentimental e com pitadas de sofrimento metafórico, eu pensei muito sobre o assunto. Tipo, não um planejamento das coisas que eu quero dizer, mas como pensamentos intrusivos durante o banho ou a viagem de ônibus, que surgem quando você ouve uma música com uma melodia específica ou lê um trecho de livro e pensa "nossa, mas não é que é assim, mesmo?" e na maioria das vezes eu só começo a refletir sobre minhas falhas e sobre coisas que me machucam ou me fazem pensar que eu já machuquei alguém.

É por isso que estou escrevendo isso aqui. Porque esses pensamentos vêm e vão, e eu nunca vejo oportunidade de escrever eles direito, e eles se perdem. Isso aqui é só uma pequena introdução, porque eu não quero que alguém pense que eu fico desenterrando as coisas de propósito ou que eu gosto de me martirizar. Eu não sou muito de lembrar, e eu muitas vezes não gosto de quando eu lembro.

E minha maior semelhança com Simon Snow é que eu também sou muito boa nesta coisa de não pensar. O problema é que, para isso acontecer, eu não posso ficar dentro da minha cabeça. Eu preciso estar falando, lendo, escutando, fazendo algo. E nem sempre eu tenho isso à minha disposição. Então eu penso.

Às vezes minha cabeça é tipo uma página inicial do Pinterest: eu começo em uma ilustração, vou para um meme, depois para um print de uma discussão feminista e, quando eu menos percebo, estou vendo tutoriais de maquiagem. Às vezes, funciona mais como o modo aleatório de reprodução do Youtube: segue um caminho diferente, mas bem parecido, e algumas vezes foge do padrão. Na maioria das vezes, ela é como um mini cinema onde eu repasso tudo que eu fiz e falei no dia ou na semana ou no mês que mereça ser lembrado.

Coisas minúsculas, como um comentário ridículo sobre uma música que eu nunca ouvi, uma coisa idiota que eu disse que pode ter irritado alguém, uma fala de uma amiga que me deixou particularmente magoada. Coisas sem sentido que eu falei, coisas que podem fazer as pessoas pensarem em mim de certas formas, se eu gosto ou não das imagens que eu passo para o mundo.

Eu acho que é porque eu tenho um círculo social muito pequeno, então eu consigo lembrar dessas coisas e escrutinar cada uma delas. Talvez eu devesse fazer mais coisas além da escola, porque às vezes eu tenho muito a impressão de que estou vivendo a síndrome do personagem coadjuvante.

Acho que eu nunca falei sobre isso aqui, mas de vez em quando eu sinto que vivo para estar na vida dos outros. Eu vivo num looping em que eu sigo script, fico presente junto do elenco principal e faço o que esperam de mim. Então, eu sigo o meu caminho dentro da minha cabeça no meu momento de folga no ônibus, onde eu sou só uma figurante na vida de alguém. Se eles não notam minha presença, eu não noto a deles. Então, ao chegar em casa, eu estou fazendo outro turno como coadjuvante. Sou a família ocasional do elenco principal, aquela que nunca está realmente presente até que a merda fica feia ou o alívio cômico é necessário. Depois, eu vou para o meu quarto e tenho outra folga, onde eu sou só uma existência flutuando. Meu propósito é existir na vida dos outros. Não é sempre que eu penso isso, claro. Só de vez em quando.

Em certos momentos, eu tenho medo de me importar demais com coisas que não deviam importar tanto. Como o nome de pessoas que nem lembram do meu rosto, ou músicas que me indicaram mas nunca se deram ao trabalho de conferir se eu ouvi. Tenho medo de ser só um parágrafo de uma página qualquer da vida das pessoas que são capítulos inteiros para a minha. Eu tento não pensar nisso muito.

É porque todo mundo parece conhecer muita gente, fazer muitas coisa. Eles parecem ter vários lugares aos quais eles pertencem de formas diferentes, enquanto eu tenho no máximo dois e sou praticamente a mesma coisa neles.

Boa parte do tempo, eu me considero estável demais. Mas, quando eu me torno instável, me sinto mal.

Sei lá, eu queria não me sentir como uma presença flutuante e quase insignificante. Ou como o personagem coadjuvante da vida de alguém. Eu queria ser concreta, certeira, como uma palavra no sentido denotativo. Eu queria sentir como se eu fizesse sentido, ou tivesse sentido. Como se eu soubesse o que eu quero o tempo todo, ou só a maior parte do tempo. Eu quase sempre me sinto um pedaço de lixo levado pela maré.

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