Porcelana Antiga
Atrás do vidro da cristaleira na sala de estar, estavam as porcelanas da dona da casa. Um jogo de chá esmerado, miniaturas de anjos, pequenos camponeses sentados em banquinhos, móveis miúdos e ricamente detalhados que formavam uma pequena casa dentro do móvel.
Os itens contidos no móvel bem polido eram a menina dos olhos da dona da casa. O carinho pelas figuras de porcelana era devidamente mostrado com a leveza usada para manuseá-las, limpá-las, realocá-las. O vidro sempre limpo, para que as miniaturas se destacassem.
Cada item na cristaleira representava algo belo e importante. Cada um era especial.
O jogo de chá a lembrava de seu casamento, a morte precoce do marido, as breves e doces memórias que tiveram juntos.
Os pequenos anjos eram presentes de aniversário dados por sua irmã mais nova. Com seus olhares travessos, recordavam-na de suas aventuras infantis
Os camponeses foram achados numa loja de quinquilharias; vivera demais para a pouca idade que tinha quando os encontrou, as figuras juvenis e despreocupadas causando inveja, na época. Ia sempre na loja para observá-las, mas nunca decidia se iria ou não comprá-las. Por fim, o dono da loja decidiu por ela: um belo dia de verão, recebeu dele uma caixa com todas as jovens figuras que namorava.
O dono da loja virou um bom amigo, depois disso. Os pequenos móveis vieram todos do discreto estabelecimento dele.
O delicado quarteto de cordas foi presente de sua afilhada, que desde moça amou música. O presente veio num pacote da Europa, acompanhado de postais, estes que estavam bem guardados em uma das gavetas da cristaleira.
Da mesma afilhada, ganhou a cada aniversário uma musa grega. As nove graciosamente agrupadas atrás do vidro. Dependendo do que sentia no dia, colocava uma determinada musa no centro de acordo com o ofício que representava.
A coleção de bailarinas era a mais extensa. Os figurinos e posições variadas faziam o balé que apresentavam ser dessincronizado, mas não o tornavam menos belo para a senhora.
Havia um Pierrot e um carrossel. Estes eram presentes de uma velha amiga que há muito se foi. O sol às vezes batia nas belas cores vibrantes destas figuras, e um leve aperto abatia o coração da dona da pequena coleção.
Gatos, ursos, cabras, cães... os animais de porcelana eram uma parte grande da coleção. A maioria era recente, presente de suas sobrinhas-netas. Entre eles, um relógio minuciosamente feito descansava. Nele, jovens apaixonados e fadas eram observados. Era de seus pais.
A dona amava imensamente cada peça de sua coleção.
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