A mortificante provação de ser conhecido...
... e as recompensas de ser amado.
Há alguns anos, minha amiga (escritora do blog Um Abacaxi Vermelho) deu a sugestão de fazermos textos narrando o momento quando nos conhecemos e nossa primeira conversa, com a condição de que cada uma teria que escrever como se fosse do ponto de vista da outra.
Eu, obviamente, rejeitei a proposta, ainda que ela continue a sugeri-la de tempos em tempos. É porque não sou confiante o suficiente para escrever sobre como os funcionamentos internos de outro alguém são, por mais que eu conheça esse alguém. Ironicamente, eu tenho total confiança de que ela conseguiria escrever corretamente sobre todo o meu processo de pensamentos. Ela é terrivelmente perceptiva, afinal, e eu meio que sou bem previsível depois de um tempo (talvez, eu seja previsível desde o primeiro momento, mas gosto de pensar que eu consigo ser misteriosa, mesmo que minimamente).
Eu conheci ela na parte da minha vida em que eu tinha percebido que sentar juntos para comer no recreio todos os dias e declarar que vocês são amigos não é exatamente como funcionam amizades. Eu descobri isso quando eu mudei para uma escola em outra cidade e a estratégia não funcionou (além de eu não ter conseguido manter contato com nenhuma das pessoas que eu considerei amigas anteriormente). No momento que eu conheci a Cacau Abacaxi, eu não pensei que viraríamos amigas, apesar de reconhecer na minha cabeça que ela era inteligente e interessante. E, realmente, nós não viramos amigas instantaneamente, apesar de termos constantemente gravitado em torno uma da outra por termos as mesmas amizades.
Não, nossa amizade foi um slow burn. Só depois de muito tempo no estado de eu-te-conheço-mas-não-somos-próximas que começamos a nos falar de verdade, sem interferências externas. Eu aprecio hoje os modos como nós somos muito iguais e muito diferentes, e o jeito que nós fazemos isso funcionar, apesar de eu achar elas insuportável em alguns dias.
Eu acho que um dos exemplos de semelhanças divergentes que temos é o jeito que as pessoas nos levam como grosseiras e/ou insensíveis sobre coisas que nem sempre são intencionais. Eu sou uma pessoa que sempre pensam que eu estou irritada, mesmo quando eu estou zoando. Talvez eu tenha mau controle sobre a intensidade do meu tom de voz, mas eu sempre acabo ofendendo ou machucando alguém sem intenção. A Cacau, por outro lado, é o tipo de pessoa que parece estar zoando mesmo quando ela está falando de coisas sérias, porque ela tem a mania de não querer deixar o ambiente pesado. Algumas pessoas acabam achando que ela não se importa com as coisas sérias que a dizem, o que faz elas se sentirem ofendidas ou irritadas. Ela normalmente para se você fala que a atitude dela está sendo incômoda, mas poucas pessoas parecem perceber isso.
Assim, ela zoa coisas que eu digo, mesmo que eu pareça séria, e eu levo coisas que ela diz à sério, mesmo que ela pareça estar zoando, e dá certo. É claro, em alguns momentos a atitude casual dela me causa exasperação, assim como eu sei que minha atitude não é sempre bem-vinda para ela, porque é assim que funcionam relacionamentos. Nem tudo é perfeito, mas amar não é para ser algo perfeito, apesar do que dizem alguns poetas. E também não precisa ser horrível, apesar do que dizem outros poetas por aí.
E é aqui que entra o título dessa postagem.
O título deste post é referência ao texto "I Know What You Think of Me" do autor Tim Kreider. Simplificando, o texto diz que para ser amado você deve ser conhecido, e uma das consequências de ser conhecido é que as pessoas saberão suas falhas e as reconhecerão. Elas farão piadas afetuosas sobre você e reclamarão sobre aspectos seus que elas acham infuriantes porque, bem, elas te conhecem e te amam apesar de suas falhas.
Eu conheci esse texto por causa de uma fanfic, como acontece com vários aspectos da minha vida. Foi uma história terrivelmente emocional, e entre as tags estava "The Mortifying Ordeal of Being Known". Eu, obviamente, achei a tag poética demais para não ser referência a algo externo e dei um google básico na frase, descobrindo assim que era parte de uma crônica feita para o The New York Times. A frase virou um meme no Tumblr (o que é e não é surpreendente, considerando o buraco negro que o Tumblr é) e, nesse processo, virou uma tag de fanfic.
Mas, voltando ao assunto: a ideia que amar é ignorar as falhas e as pequenas características irritantes de alguém não é boa. Ninguém é perfeito, por mais clichê que seja falar isso. Todos nós estamos em uma infinita jornada por melhoramento, e essa jornada é diferente para todos, e o destino quase nunca é o mesmo. Quando você se compromete a amar alguém, você também se compromete a reconhecer que ela vai mudar e você também, e que há escolhas envolvidas nessas mudanças que interferem se vocês continuarão a se relacionar ou não. Você precisa admitir que, mesmo que tudo seja um mar de rosas, algumas rosas têm espinhos que machucam, e mesmo que pessoas que apreciam você terão dias em que elas não vão te suportar, e vice-versa.
E não tem nada de errado com isso.
(Acabou que isso meio que virou um "Vamos falar sobre Amor" parte 2)
Dizendo novamente, a espera valeu a pena, acho que sempre vale, mesmo com os posts que não falam de mim. Mas esse aqui em especial me deixou um pouquinho emocionada com esse, talvez porque gosto quando falem de mim ("Falem bem ou falem mal, mas falem de mim") ou talvez seja porque a cada dia você parece saber mais de mim do que eu mesma. Não sei se você sabe, mas eu tenho uma dificuldade em traduzir o que sse passa pela minha cabecinha em palavras, mas você consegue fazer isso perfeitamente, acho que talvez você saiba melhor o que se passa em mim do que eu mesma.
ResponderExcluirMas é, amar é sobre isso eu acho, sobre conhecer e entender as pessoas mesmo com suas falhas, gosto como você fala isso porque acredito que nós compartilhamos uma pequena raiva com amores a primeira vista ou pessoas que simplesmente se tornam perfeitas para serem amadas.
Então é isso eu acho, obrigada por me conhecer e por me entender.