Tudo isso por causa de uma resenha de um livro do Nicholas Sparks
Meu avô era o único que lembrava que eu gostava de bolacha de morango, enquanto minha irmã preferia as de chocolate, e sempre que ele ao mercado ele comprava um pacote para cada uma.
Ele também sempre comentava sobre minhas roupas e maquiagem e cabelo, me perguntando se eu estava bem quando eu estava vestida de um jeito simples. Ele comentava sobre meus croppeds e calças rasgadas e ria da moda jovem atual. Ele chegou a cortar uma das camisetas dele e rasgou os joelhos de uma das calças, dizendo que assim ele estaria se vestindo como eu, na moda. Eu acho que ele se divertiria muito com os estilos novos que vemos no TikTok.
Ele sempre andava com uma pochete presa no quadril. Ainda lembro o quão animado ele ficou quando a gente contou pra ele que elas voltaram à moda.
Um dia ele chegou no portão da minha casa sem avisar, e me entregou um livro, dizendo que era uma presente de aniversário para mim, porque ele passou na frente de uma livraria e lembrou que eu gostava de ler. Faltavam três meses para o meu aniversário.
Eu não tive coragem de falar pra ele que eu não gostava muito de Nicholas Sparks. O livro está na minha estante, mas eu ainda não peguei para ler. O engraçado é que, agora, sempre que alguém menciona qualquer coisa do Nicholas Sparks, eu penso no meu avô.
Às vezes, indo para a escola, eu me encontrava com ele no meio do caminho. Eu, saindo do ônibus para entrar no metrô e ele, indo pegar o ônibus para casa. Não era sempre que a gente se falava, ou que ele percebia que eu estava lá, mas o momento sempre ficava na minha cabeça pelo resto do caminho.
Meu avô sabia todos os caminhos possíveis pela cidade por um carro, porque ele foi caminhoneiro e motorista de ônibus numa época em que não se usava GPS, então as pessoas precisavam decorar mapas.
Ele me deu brincos e um colar de presente de 15 anos. Umas semana depois, ele voltou com brincos para a minha irmã, porque ele lembrou que ele só tinha dado um colar de presente quando ela fez 15 anos.
Quando meu primo fugiu de casa, foi meu avô quem encontrou ele na manhã seguinte, e convenceu ele a voltar.
Minha irmã uma vez comentou que queria experimentar língua de boi. Algum tempo depois, ele e minha avó nos convidaram para a casa deles e, quando chegamos lá, ele disse que comprou a língua para a minha avó preparar pra minha irmã.
Ele não gostava muito de bolo de chocolate. Ele preferia bolo branco.
Ele costumava levar eu, minha irmã e meu primo para tomarmos aqueles sorvetes à base de gelatina.
Ele adorava deitar na rede.
Eu sinto saudades dele.
Comentários
Postar um comentário