Pequenos atos de (auto)destruição

(Avisos: essa postagem contém detalhes de mim mesma machucando meu corpo de maneiras pequenas e geralmente não muito conscientes do que exatamente eu estava fazendo. Alguns detalhes podem ser incômodos e nojentos, e você não tem a mínima obrigação de ler esse relato da minha vida).

Sabe, desde bem nova eu tenho esse problema de que eu não consigo manter minhas mãos paradas. Sempre que eu ia dormir ou me acalmar, eu fazia esse movimento específico que meus pais chamam até hoje de "contar dinheirinho", porque parecia que eu estava alisando uma moeda invisível. Quando eu não estava fazendo isso, eu estava cutucando ou arranhando algum objeto ou partes do meu corpo, ou desenhando em alguma superfície.

Entre os objetos, meus alvos mais comuns (ou, pelo menos, os que lembro mais) eram: cantos de folhas de papel e marcadores de página, que eu arranhava até desgastar e ia puxando pequenos pedaços pouco a pouco até não sobrar nada; borrachas, que eu cutucava com lápis e canetas até furar toda a superfície (onde eu já tinha desenhado previamente), e depois enfiava minhas unhas, arrancando pedacinho por pedacinho do inteiro até perceber que eu estava desperdiçando material escolar; aqueles colchonetes azuis da escola, que eu arranhava enquanto as outras crianças dormiam durante a tarde (se eu tivesse sorte, eu pegaria um com alguma fissura na qual eu poderia enfiar meus dedinhos e aumentá-la lenta e discretamente); e a antiga mesa do computador, que era de madeira, e eu desenhava nela de caneta e depois entalhava meus desenhos com qualquer coisa que eu achasse que ia funcionar (chaves, canetas com pontas adequadamente afiadas, tesouras).

Eu meio que faço isso até hoje: eu constantemente rabisco em mesas, furo sacolas plásticas com as minhas unhas, e se me entregarem algum panfleto promocional e eu não jogar em nos confins da minha mochila, tenha certeza de que em trinta minutos esse panfleto terá virado confete.

Mas o meu maior problema, como você pode muito bem imaginar, é que eu não faço isso só com objetos. 

Se eu me esforçar bastante para lembrar, eu consigo separar minha vida em pequenas partes categorizadas em torno de como eu estava usando minhas mãos para me machucar (geralmente são só as mãos, mas há categorias que estão também subcatalogadas na sessão "dentes").

(Sim, esse é o tema dessa postagem, pequeno ninja lunar).

Quando eu tinha uns cinco anos, eu comecei a cutucar minhas próprias unhas até formar fissuras ou até eu poder quebrar elas com a ajuda dos meus dentes e a condução das minhas outras unhas. Eu até hoje me recuso a chamar de "roer unhas", porque o que eu fazia era levemente mais complicado do que mastigar minhas unhas até sangrar. Não, eu era muito cuidadosa com meus métodos e muito obstinada em ser discreta, para uma pessoa de cinco anos. Gostava de pensar que era um corte de unhas simplificado, já que tentava aparar (arrancar) somente o comprimento que eu julgava adequado e que provavelmente já cortaria se usasse um cortador de unha (que na época, obviamente, era administrado somente pela minha mãe). 

Houve alguns acidentes em que minhas unhas saíram mais perto da carne do que o originalmente planejado (ou, seja, eu me machuquei) e minha mãe começou a reclamar que eu estava roendo minhas unhas, o que meu eu de cinco anos julgou ser uma reputação inaceitável, então eu parei com meu método especial de cortar unhas.

Depois disso, eu fiquei por um bom tempo muito animada com a proposta de enfiar a mão na minha boca para puxar e empurrar meus dentes de leite até eles serem arrancados pelos meus próprios dedinhos (por algum motivo muitas pessoas me acham esquisita por arrancar meus dentes com minhas próprias mãos, sem a ajuda de táticas especiais, mas eu sempre gostei da sensação de empurrar e puxar meu dentes de leite até eu sentir eles descolando da gengiva e o gosto de sangue na minha boca).

(Ok, esse último texto entre parênteses soou meio macabro. Mas essa postagem inteira é sobre as pequenas formas que eu usava/uso para me machucar, então quem se importa?).

Com o começo do Fundamental I e minha entrada no balé, vieram também novas manias: eu cutuquei a parte de trás das minhas orelhas até causar feridas grandes por toda a área que conectava minhas orelhas à minha cabeça. Até hoje eu não sei se meus lóbulos sempre foram tão separados assim, ou se eu dei um jeito de rasgar minhas orelhas. Eu também comecei a puxar a pele dos meus pés, principalmente entre meus dedos, e algumas vezes eu abri feridas fazendo isso (mas foram poucas).

Eu não lembro exatamente quando eu comecei a arrancar meu cabelo, mas eu acho que foi mais ou menos na época em que o Fundamental II começou, porque eu lembro que foi nessa época que meu cabelo começou a mudar de textura e cacheou um pouco mais por causa da puberdade (sim, seu nível hormonal pode afetar a textura do seu cabelo). 

Eu lembro que eu procurava meus fios de cabelo que tinham texturas mais interessantes e arrancava eles um por um da raiz. Eu também passava a mão no meu cabelo até eu achar minhas pontas mais finas e cortava elas com os meus dentes (eu tinha uma amiga que sempre estava procurando pontas duplas no cabelo dela, e eu acho que ela me influenciou um pouco, mesmo que achar pontas duplas no meu cabelo fosse um trabalho praticamente impossível).

Depois de um tempo eu parei de fazer essas coisas e comecei só a enrolar meu cabelo em volta do meu dedo. Amarrar meu cabelo com cadarços também ajudou muito, porque eu comecei a puxar os cadarços e enrolar eles em volta dos meu dedos de jeitos bizarros para me entreter. Mas, até hoje, vira e mexe eu me percebo arrancando meus pelos das sobrancelhas com meus dedos e procurando quais dos que eu arranquei têm as curvas mais bonitas (sim, meus pelos da sobrancelha enrolam, eu sinto que eu já mencionei isso em outra postagem). Às vezes, eu arranco pelos das minhas pernas do mesmo jeito.

Depois disso, veio a mania de cutucar meu couro cabeludo, às vezes até criar feridas. Essa não foi embora até hoje, se eu for sincera, e ela meio que evoluiu(?) porque agora eu tenho pequenas feridas por todo o meu corpo que eu fiz com meus próprios dedinhos inquietos. Neste exato momento meu rosto tem cerca de 24 machucados, minhas costas uns 5, minhas pernas uns 4 e minhas orelhas uns 3. Eu sempre digo que vou parar, mas quando meu menos espero eu me pego abrindo uma nova ferida. Sinceramente, eu não sei como parar (eu aceito sugestões).

Eu também não sei o que causa meus pequenos momentos de destruição. Minha mãe insiste que é nervosismo/ansiedade, mas eu não acho que seja isso. Se me perguntassem, eu diria que tem a ver com meus níveis de concentração no que eu estou fazendo, mas nem disso eu tenho certeza, pra falar a verdade. Eu só... queria colocar tudo isso escrito em algum lugar, sabe? Eu penso um bocado nisso já tem alguns anos, e eu queria amarrar as pontas soltas desses pensamentos em algum lugar.


(Alguns de vocês, pequenos ninjas, viram esse título e pensaram que eu ia falar sobre meus péssimos hábitos alimentares e para vocês eu digo not today, Satan, até porque ultimamente eu tenho andado bem melhor).

(Espero que minha terapeuta não veja essa postagem).

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